A Comparação... Canadá (Quebec), Nova Zelândia (Ilha Sul) ou Portugal?
Quando nos mudámos para Montreal alguém nos disse que ninguém realmente viveu no Canadá até sobreviver o Inverno daqui.
Uns bons meses já no Inverno, ainda mais depois dos -28ºC de ontem e dos -25ºC enquanto escrevo este texto, e depois de 7 meses em Montreal acho que posso começar a escrever um pouco mais da experiência de viver aqui.
Para mim é inevitável comparar o Quebec à Nova Zelândia ou a Portugal. E vou me focar no Quebec porque acho que há diferenças substanciais entre o Quebec, em particular Montreal (onde estámos), e o resto do Canadá.
Vamos fazer isto aqui falando por temas...
METEREOLOGIA:
Quero começar pelo "elefante na sala": o Inverno e o frio.
Sinceramente, pela nossa amostra, contra tudo que nos disseram, é um "não problema".
Tenho menos frio aqui do que em algum país onde vivemos antes. As casas e os edifícios tem todos melhores condições que na Nova Zelândia ou em Portugal. É frio lá fora... é muito frio mas dá para estar sempre quente e confortável.
Mesmo na visita a Portugal que fizemos em Dezembro tivemos mais frio do que no pior dia aqui. Era um frio diferente, em que não se conseguia estar confortável. Aqui, mesmo com os -25ºC que estão lá fora agora, conseguimos não ter nenhum desconforto (com a roupa certa e sem nenhuma pele exposta ao frio). Depois quase é possível viver sempre dentro de portas. Por exemplo, no centro da cidade há uma outra "cidade subterrânea" que liga o centro todo. É possível andar em diferentes prédios, shoppings sem nunca vir à rua.
A outra razão da pessoas aqui não gostarem do Inverno é não haver nada a fazer. Mas nós adoramos desportos e actividade de Inverno, e aqui podemos fazer vários muito facilmente. Temos estâncias de ski alpino a 40 min de carro e ainda algumas outras bem grandes se formos a 1 hora e meia de distância. Na cidade há ski de fundo, patinagem no gelo (que a Sofia adora) e trenós monte abaixo (que podemos fazer à porta de casa).
Quanto ao Verão e ao calor. Outra agradável surpresa. Pelo menos na nossa experiência foi o Verão mais quente que tivemos nos últimos 10 anos. E não foi só um dia assim quente, foram meses de calções e t-shirt, coisa que já não me lembrava de fazer tanto tempo seguido.
Em resumo, no que toca a meteorologia, para nós Montreal surpreendentemente ganha a Portugal e à Nova Zelândia. Mesmo com este Inverno pseudo agressivo.
BUROCRACIA:
Com cada mudança de país a burocracia torna-se algo do dia a dia. E os nossos últimos meses não foram excepção. Depois de viver na Nova Zelândia tudo pareceu um pesadelo. Papéis e papeizinhos. Assinatura aqui e assinatura ali. Cheques... sim cheques para aqui e para ali. Cheques que na Nova Zelândia já nem existem de tão primitivos que são, aqui são obrigatórios para n processos. Um sistema bancário que o descrevem de "muito fácil" até me dava vontade de rir quando começavam a explicar a sua "simplicidade".
Tive de voltar a ter carteira, afinal aqui também é preciso andar com todo o tipo de documentos para conduzir um carro. Sabem, não é preciso andar com documentos de carros e seguros para todo lado em alguns países. Se a polícia parar alguém, hoje em dia está tudo informatizado, dá para aceder no computador.
Eu sei que estamos mal habituados de 10 anos a viver nas ilhas do Pacífico, e que em Portugal em muitas coisas até era pior (excluindo o sistema bancário funcionar muito melhor até em Portugal) mas foi um choque voltar a outra realidade.
Em resumo, como já devem estar a imaginar, Montreal fica num segundo lugar. A uma enorme distância da Nova Zelândia em primeiro lugar. Portugal ainda continua em terceiro, embora perto de Montreal, com algumas coisas melhores mas com umas poucas mais piores e mais complicadas.
VIDA SOCIAL E PESSOAS:
Este ponto é um dos pontos mais interessantes de se falar e reflete apenas 7 meses de experiências. Temos consciência que são 7 meses numa era "pós-isolamentos de Covid".
Para quem sai de Portugal, onde a vida social é muito mais natural, as interações sociais com os "locais" são sempre um desafio. No estrangeiro acaba-se sempre por fazer muito mais amizades com outros "expatriados". Na Nova Zelândia isso já acontecia e aqui a nossa vida social também acontece da mesma forma.
Ainda mais complicado agora porque poucas pessoas vão ao escritório (mesmo eu ou a Catarina só vamos ao escritório no máximo duas vezes por semana, até porque na segunda-feira e sexta-feira os escritórios estão quase vazios). Não ajuda a conhecer muitas pessoas.
Os locais normalmente tem os círculos de amizades mais antigos e nós também não temos muito tempo com todas as actividades da mais novas para ir a locais de conhecer pessoas. As pessoas que estamos mais são exactamente das pessoas das actividades das mais pequenas, ou familiares/amigos de pessoas que conhecíamos antes de vir para o Canadá, e que nos foram apresentados.
A vida social ainda é o nosso maior desafio, embora, verdade seja dita, já tivemos ou vamos ter mais visitas aqui nestes meses do que em anos da Nova Zelândia.
Quanto à simpatia, de forma geral as pessoas são simpáticas, não temos algum momento que podemos nos queixar pessoalmente, mas por comparação ficam um bocado atrás quer de Portugal ou Nova Zelândia, embora à frente da minha outra experiência nos Países Baixos.
Por outro lado, no trabalho as pessoas respeitam-se muito, e são mais conscientes dos outros do que em Portugal por exemplo, pelo menos nas minhas experiências.
Em resumo, aqui é muito complicado escolher um favorito. Portugal é o país mais social no dia a dia e a Nova Zelândia e Quebec ficam atrás nesse sentido. A Nova Zelândia aquele onde as pessoas são naturalmente mais simpáticas e respeitam e se preocupam uns com os outros, ficando o Quebec e Portugal atrás neste departamento.
VIDA PROFISSONAL:
Eu sei que há excepções e tenho amigos que mesmo em Portugal tem boas experiências, mas estou a comparar com a empresa típica em Portugal. Aquilo que podemos esperar de falar com 80% dos nossos amigos: salários que são um insulto (ainda mais para quem tem noção dos salários que se praticam no estrangeiro para funções iguais, enquanto os patrões exibem o dinheiro sem problema), horários de trabalhar que não reconhecem vida pessoal, colegas que criticam quem não faz esses mesmos horários, e mais coisas assim. Portanto, vou excluir Portugal desta conversa.
Entre a Nova Zelândia e Montreal, no que toca à vida profissional noto muito poucas diferences. Quer para mim quer para a Catarina a situação é muito parecida.
Os salários são mais altos aqui, mas também é o custo de vida. Na realidade depende muito de como se olha para os salários, mas tanto posso dizer que no final é bastante melhor aqui como que era ligeiramente melhor na Nova Zelândia, por isso dou um empate nessa área.
No aspecto das condições e no equilíbrio entre vida pessoal e trabalho, também. Mesmo a Catarina continua a fazer as mesmas horas de trabalho que fazia no Nova Zelândia (reduzido para ajudar com as coisas das mais novas) e não teve nenhum entrave (de novo, uma realidade ainda muito desconhecida em Portugal, ainda mais para mães e pais).
A grande diferença para mim é nas oportunidades. Montreal consegue oferecer muito mais oportunidades e variedade que na Nova Zelândia. Na Nova Zelândia andei sempre por empresas de topo, em que adorava o que fazia mas sempre tive dificuldades em ver outras em que fosse gostar tanto dos desafios como naquelas onde estava. Em Montreal, quer na minha área, quer na da Catarina há oportunidades e projectos muito maiores e outras oportunidades diferentes se houvesse intenção de trocar.
Por exemplo, na Nova Zelândia estava com projectos que eram usados por quase todas as pessoas no país (o que dava um máximo de 5 milhões de utilizadores) e aqui só o jogo que estou a trabalhar neste momento já foi jogado por mais de 70 milhões de pessoas (14 vezes mais).
Em resumo, Montreal volta a ganhar aqui, com a Nova Zelândia por perto... Portugal num distante último lugar (porque ainda comparo com os Países Baixos).
TRÂNSITO
Este ponto é muito fácil. Nova Zelândia (Ilha Sul) ganha por cabazada. As pessoas respeitam muito mais as regras, não há trânsito (e quando há umas poucas filas ninguém tenta furar as filas... NINGUÉM) e é tudo fácil, mesmo não havendo auto estradas (naquela que era a nossa ilha).
Porto e Lisboa estão no fim. Ainda por mais depois desta última visita. Estacionamento caótico, filas enormes de trânsito. O Porto em particular não percebo. É mais pequeno que Montreal em todos os aspectos e mesmo assim menos funcional. Mesmo sendo Montreal uma ilha que tem que se usar pontes para aceder a todos lado fora da ilha.
Ainda assim em Montreal há muitos dos mesmo problemas que Portugal, em particular os fura-filas e o transito à hora de ponta. Às vezes até filas enormes nas auto-estradas.
Em resumo, Montreal fica em segundo, muito atrás da Nova Zelândia (mas mesmo muito). Fica à frente de Portugal (apesar de também ter trânsito e fura-filas), principalmente por causa das pessoas respeitarem as outras regras de trânsito (ainda mais os STOPs) e estacionarem sempre bem.
BELEZA NATURAL
Acho que não dá para comparar estes três países. Todos são bonitos de forma diferentes e tem coisas fantásticas para se visitar. Claro que as coisas que vemos fora de Portugal nos atrai de forma diferente porque são novidades. Mas da mesma forma quem nasce no Canadá e na Nova Zelândia vai a Portugal e vê coisas que nunca veria na vida.
Em resumo, neste aspecto dou um empate técnico aos três e vou me limitar e tentar partilhar um pouco mais no futuro sobre o Canadá também. Ainda não tivemos tempo de explorar tanto como queríamos.
SKI
Já falei um pouco disto na parte do Inverno, mas quem nos conhece sabe que há a necessidade de ter uma secção dedicada só a este aspecto, até porque pesa nas nossas decisões.
Portugal está mais perto dos Alpes europeus, e isso facilita outras experiências, mas não há nada como ter estâncias a 40 minutos, inclusive com ski nocturno, como aqui em Montreal.
Em Christchurch, na Nova Zelândia tínhamos uma oferta interessante com alguns estâncias e clubes (5 ou 6) numa distância entre 1h30m e 2h00. Com um viagem de 5 horas consegui-se ter mais 3 maiores (em Wanaka e Queenstown).
Em Montreal a oferta é muito maior. Temos uma estância já bem interessante a 40 minutos de casa, e uma muito maior e interessante a hora e meia de distância umas 12 estâncias. Com as mesmas 5 horas de viagem temos mais de 20 estâncias, muitas delas bem maiores que a maior que tínhamos na Ilha Sul.
Assim, e de novo em resumo, Montreal ganha nesta frente, a Christchurch num simpático segundo lugar e Portugal apesar de ficar em terceiro aqui, continua mais perto dos Alpes europeus.
OPORTUNIDADES (para as mais novas)
Uma das 3 razões principais para a nossa mudança foram oportunidades para a Alice e Sofia para agora e para o futuro. E se os primeiros meses foram cheios de desafios para elas, sem dúvida que há muito mais oportunidades para o futuro.
Elas ainda são Neozelandesas em passaporte e coração, e espero que guardem isso com elas. Montreal consegue preparar melhor para o mundo como ele é. O facto de aos 8 anos a Sofia já falar bem três línguas (Português, Inglês e Francês) é um bom começo. Viver numa cidade com mais oportunidades para atividades, estudos e de ver coisas diferentes deve completar o resto.
Este era sem dúvida um dos problemas da Nova Zelândia para nós, até a comparar com Portugal. Estar longe de tudo traz coisas muito boas, como tudo já mencionado acima, mas estamos longe de tudo. A Austrália, o país mais perto, está a 3 horas de avião e continua tudo a ser igual. A alternativa é para as outras ilhas do Pacífico, mas mesmo para aí as semelhanças são muitas e as horas de voos podem ser muitas também visto ser preciso trocar de aeroportos.
Montreal aqui é provavelmente a melhor hipótese, seguido de Portugal. A Nova Zelândia tem um potencial diferente. Mas neste ponto tudo é relativo, até para nós. É um salto de fé. Por isso não há um vencedor absoluto.
FAMÍLIA E AMIGOS
Portugal, obviamente... não há dúvida.
Temos amigos na Nova Zelândia, mas a distância da família e dos amigos mais próximos em Portugal e na Europa sempre foi o maior problema da Nova Zelândia. Em 10 anos tivemos alguns amigos a visitar mas talvez a uma média inferior a um por ano. Zero no últimos anos devido às fronteiras fechadas. E as visitas a Portugal, ainda mais com uma família de quatro eram demasiado duras e dispendiosas para serem regulares.
Montreal já começou a mudar isto na nossa vida. Em menos de 6 meses aqui já conseguimos uma visita a Portugal e foi o primeiro Natal em família em uma década. Já começamos a ter visitas e os próximos fins de semanas vão estar sempre com visitas. Para o Verão já vamos ter família aqui e mais amigos de Portugal. Esta foi uma das outra razões principais da mudança e pelo menos aqui não há decepção.
Portugal vai ser sempre o porto de abrigo para nós (principalmente o Porto). Mas Montreal está a ter um bom equilíbrio neste assunto. Sem dúvida uma melhoria relativamente à Nova Zelândia, pelo menos para já.
FINALMENTE
7 meses depois de nos termos mudado, finalmente, começamos a ter a vida mais organizada. Não foi fácil estabilizar tudo. As mudanças nunca são fáceis. Desde ter tirar novamente a carta de condução, escolher escolas, perceber todo um novo sistema e lidar com todas as burocracias.
Não existem lugares perfeitos... cada vez vemos isso de uma forma mais óbvia na nossa vida, mas ao mesmo tempo existem muitas coisas boas em todas os sítios e termos a sorte de experienciar todos estes mundos é muito bom.
O nosso coração vai estar sempre em parte na Nova Zelândia e em Portugal, tal como para mim os Países Baixos também tiveram, mas o momento agora é Montreal e aos poucos começar a ganhar um lugar dentro de nós. Continuamos a aproveitar. Temos muitas oportunidades para ver coisas novas e explorar. Já acontece no nosso dia a dia. De certeza que vamos ter mais desafios... mas também há muitas coisas novas e boas...
Tenho esperança de nas próximas semanas escrever um pouco mais de Montreal, em particular deste Inverno.
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