Quarenta...

Há alguns anos começamos a planear o que seria a viagem da celebração das 40 primaveras... 

Seria uma forma especial de celebrar a nossa maneira de ser durante este número tão redondo e por isso tinha de ser planeada ao detalhe e com muito tempo. Depois de várias planos iniciais o objectivo era uma viagem de pelo menos um mês na América do Sul. Peru e Chile eram os países privilegiados e seria para explorar a parte menos turística.

Depois chegou 2020 e fez com que os planos se desfizessem, quer pela impossibilidade total de o fazer quer pela motivação. 

O meu 39 aniversário foi de longe o pior da minha vida até ao momento. Aconteceu dois dias antes de perder uma das pessoas mais importantes da minha vida, o meu pai, quando isso já seria o mais certo acontecer. São 4 dias de diferença entre o meu aniversário e a minha filha mais nova e perdi o meu pai exactamente entre essas duas data. 

O Covid-19 fez-me perder o meu pai, impossibilitou-me de poder estar com ele nesse momento ou voltar a Portugal desde então, o que fez que este último ano fosse doloroso. Fez-me perder a viagem dos quarenta, mas também, para já, me tirou a vontade de a fazer. 

Porém na Nova Zelândia temos a felicidade do vírus não nos ter tirado a normalidade. Desde Junho do ano passado a nossa vida retomou a normalidade e só muito esporadicamente temos algumas limitações.  As nossas filhas, desde esse altura, tiveram sempre as suas festas, a escola, os convívio se haver risco por isso. E nós tivemos todos os nossos eventos. 

No meio de toda a dor, acredito que por estar na Nova Zelândia tive de alguma forma uma felicidade de não estar tão exposto a uma dor maior. 

Em jeito de resumo de 40 anos de vida até agora, acho que apesar de o último ano ter sido o meu mais triste, mesmo esse podia ser pior no panorama mundial e tive muita sorte em todos os outros anos anteriores na minha vida. Uns mais difíceis e outros mais fáceis, muitas decisões que precisaram de uma pouco de coragem e muito de loucura, mas o saldo final destes 40 anos continua positivo.

Tive a sorte de ter dois pais que sempre me apoiaram em todas as minhas decisões e me ajudaram, sempre que foi preciso, nos meus anos de crescimento e não só... tive uma companheira que me acompanhou nas aventuras fantásticas e decisões complicadas da vida até hoje... tive familiares que considero grandes amigos e confidentes... tive amigos de um pouco por todo mundo que considero família (e que muitos dos quais sinto saudades como se tivessem crescido comigo)... mas acima de tudo, tive duas filhas que me dão uma alegria que não consigo descrever, e que me ajudam a ultrapassar todos os momentos tristes. Não só tive estas coisas, com ainda tenho a maior parte delas...

Vivi em vários países, conheço várias culturas, umas melhores que outras, mas algumas, diferentes daquelas de que cresci, ensinaram-me muito. 

Sou orgulhosamente Português... e também sou orgulhosamente Kiwi (tenho de dizer Kiwi porque dizer Neozelandês não seria de cá)...
Mas na realidade tenho a certeza que já não sou nenhum dos dois e nunca irei ser. Sou uma mistura profunda dos dois e de todas as outras minhas experiências até hoje. Talvez por isso, agora, nunca me vá identificar completamente com nenhum lugar a 100% e me identifico com tantos lugares.

Já visitei todos os continentes habitados permanente (resumidamente, só me falta a Antártica...). Na realidade já estive em pelo menos dois países em cada continente... e já conheci muitas maneiras diferentes de se ser. E ainda me falta conhecer TANTO. 

Tenho saudades profundas de várias pessoas (ainda mais agora, com as fronteiras fechadas há mais de um ano e sem perspectivas de abrirem até ao final deste ano) mas também sei que o nosso canto no mundo é provavelmente dos melhores para se estar preso. Tenho ainda mais saudades do meu pai, por não poder conversar mais com ele, mas também sei que faz parte da vida passar por este processo e agora é a minha vez de fazer o mesmo pelas minhas filhas.

Já perdi outros amigos para sempre mas acima de tudo fico feliz de os ter conhecido, do que aprendi com eles e sobretudo dos bons momentos partilhados.

Sou feliz com os desafios da minha vida profissional... gosto do que faço e da empresa com a qual trabalho. Há duas semanas reparei que há 7 anos atrás escrevi um post no meu blog sobre a minha admiração por esta empresa, por isso, para já sinto-me em controlo da carreira, com um equilíbrio muito positivo entre trabalho em vida pessoal (não fosse também estar num país em que isso de forma geral acontece muito mais). De forma geral sempre gostei, e quando deixei de gostar tive sempre a felicidade de mudar para melhor.

Hoje, Sexta-feira, 7 de Maio (para já pelo menos na Nova Zelândia), são 40 anos... vou tirar o dia de férias para ter um fim de semana prolongado num cantinho sossegado só com a família. Não é a viagem planeada das Américas, mas estes três dias são para recordar as coisas boas que tive nestes 40 anos, recordar o meu pai que me deixou há um ano, e lembrar que é preciso aproveitar cada dia dos que vem agora pela frente. E se poder ser com as duas caras traquinas que tenho todos os dias em casa, ainda melhor...

Ficam duas fotos... a primeira com o meu pai que partiu, mas também o futuro com aquelas que ainda agora estão a começar... na única foto que vou ter de só nós os 4....


E a segunda porque, tal como está escrito no outro lado dos vitrais atrás de nós (na entrada da nossa casa):
"A família é onde a nossa história começa..."


Já não escrevo no blog há muito, mas tinha de registar este momento, porque é um marco importante... Já é super raro abrir sequer o Facebook (tudo que faço é via outras redes), mas vou ter de ir lá partilhar este post de recordação também... 

Comentários

  1. Parabéns Rui. Que apesar de todas as tristezas do último ano possas viver o dia de hoje em pleno. E que os 40 te tragam muitas alegrias. Beijinho para os 4 de nós 3 ;)

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