We are broken-hearted but we are NOT broken...

Capa de hoje do The Press (principal jornal da cidade)

O meu coração enche-se por viver em Christchurch... ainda mais num momento destes...

Passo a explicar: Foi uma semana de muitas muitas emoções...

A maior parte delas são difíceis de pôr em palavras, não só por nós, mas um pouco por todas as pessoas que nos rodeiam. De momentos muito tristes ou de raiva a momentos de muita esperança.

Já escrevi várias vezes neste blog que Christchurch é uma aldeia grande. Tal como em todas as aldeias, todas as pessoas, mais volta menos volta, têm amigos comuns. Neste ataque terrorista não foi diferente.

Foram 50 vítimas e não vou conseguir falar de todas elas. Deixo aqui algumas histórias (em Inglês) para se perceber este momentos tristes. Ainda deixo aqui algumas histórias de pais que deixam os filhos órfãos, como um Engenheiro Informático que era conhecido de vários do meus colegas que deixa uma filha pequena. E nem sequer era o único da comunidade de Informática vítima dos ataques.

Os momentos de raiva passam agora ao ler notícias e redes sociais. Não tanto na Nova Zelândia. Aqui respira-se alguma sanidade e sabe bem, mas mal passo para a imprensa internacional começa a ver-se muito do podre. Sinceramente, a maior raiva acontece ao ler os comentários vindos de Portugal (em particular por ser Portugal). Li esta semana, de mais que uma pessoa em Portugal, nos artigos aos jornais Portugueses, a responder com frases do género: "provaram do próprio veneno" ou "merecido". Naquele momento tive tanta raiva que não consigo descrever. Não quero partilhar o país no qual nasci com gente tão ignorante e tão fraca. Faz-me ver o podre que alimenta estes actos. Algumas destas pessoas que comentaram tem amigos comuns com os meus amigos (pelo menos de Facebook), ou seja, não são tão distantes assim (não é outro mundo). Eu que já não gosto de Facebook e antes da semana passada passava semanas sem o ligar fiquei a desprezar este rede social ainda mais (cada vez uso mais só para partilhar o blog - embora esta tenha sido uma semana atípica).

Do terrorista não quero saber (não sinto nada nem quero sentir)... sinceramente não sei o seu nome (só o li no primeiro dia). Não o quero saber. E aqui na Nova Zelândia não se fala ou escreve o nome dele. Só que é o terrorista. A própria Primeira Ministra faz o mesmo... e fiquei tão feliz quando o fez pois já era o que eu acreditava.

Agora, quanto à esperança...
Sinto-me privilegiado por poder assistir ao vivo e a cores a tudo que tem acontecido ao nosso redor esta semana e desde o dia do ataque. O apoio, as reações... é indescritível. A Nova Zelândia não é um país perfeito... e de certo tem a sua dose de racismo e crime... mas no meio de caos de 7 dias loucos, aqui (e ignorando tudo que veio das notícias de fora) só se viu o lado bom da humidade...
Chegamos ao ponto dos maiores gangues criminoso do país (sim, também os temos... e são rivais e até se matam uns aos outros) irem juntos em acções de solidariedade de apoio às vitimas.

Foto retirada do Stuff

Ainda temos os imensos sites de apoio às famílias das vítimas... o Give a Little em particular, um site de juntar dinheiro para apoio a vítimas, juntou já cerca de 10 milhões de dólares para apoio às vítimas de ataque. Isto representa perto de 10% de todos os apoio que o site já deu durante toda a sua existência. Já agora... aproveitem para entrar no site e, quem sabe, dar um pouco.

Aquele que para mim foi o mais marcante foi o discurso da Primeira Ministra Jacinda Arden (e que pessoa fundamental ela tem sido neste momento) e a resposta e agradecimento da comunidade Muçulmana a este apoio. Hoje, exactamente 7 dias depois do ataque, exactamente à hora do início do ataque fez-se um vigília de apoio na cidade. Com a Primeira Ministra (a usar lenço na cabeça em sinal de respeito) e um aparato policial como não se vê na Nova Zelândia (polícias com metralhadoras) assisti ao vivo a um dos discursos mais fantásticos que ouvi até hoje.

Com muitos agradecimentos, desde o agradecimento à Primeira Ministra por honrar a comunidade Muçulmana com um gesto tão simples como um lenço na cabeça até ao agradecimento à Polícia (e que fantástica e merecido agradecimento este foi... até nas coisas mais simples a polícia tem sido indescritível. Hoje até as pistolas estavam acompanhadas de flores e algumas da mulheres polícias honram a comunidade Muçulmana da mesma forma que a Primeira Ministra).

Foto retirada do Twitter

Foto de uma polícia que fotografei no final do evento
Algumas da palavras foram fortes, mas acima de tudo o momento alto foi a frase: "(A Nova Zelândia) pode ter o coração partido... mas não está partida..."


São 9 minutos que incluem uma mensagem de paz maior que aquele que muitos lideres religiosos ou de países alguma vez fazem na vida... e isto num momento de muita dor.

Mas mais do que tudo que eu posso escrever, transcrevo aqui o texto original (em Inglês) do discurso do líder religioso Muçulmano da mesquita Masjid Al Noor مسجد:

"
Last Friday I stood in this mosque and saw hatred and rage in the eyes of the terrorist who killed 50 people, wounded 48 and broke the hearts of millions around the world.

Today, from the same place I look out and I see the love and compassion in the eyes of thousands of fellow New Zealanders and human beings from across the globe who fill the hearts of millions.

The terrorist tried to tear the nation apart with evil ideology. Instead we have shown that New Zealand is unbreakable. And that the world can see injustice an example of love and unity.

We are brokenhearted but we are not broken.

We are determined to not let anyone divide us.

We are determined to love one another and to support each other. This evil ideology of white supremacy did not strike us first, yet it has struck us hardest. But the solidarity in New Zealand is extraordinary.

To the families of the victims, your loved ones did not die in vain. Their blood has watered the seeds of hope.

The beauty of Islam and the beauty of our unity. They were the best of us, taken from us on the best of days, in the best of places, and performing the best of actions. They are not just martyrs of Islam, but they are martyrs of this nation, New Zealand.

Our loss of you is a gain to New Zealand's unity. Your departure is an awakening not just for our nation, but for all humanity. Your martyrdom is a new life for New Zealand and a chance of prosperity for many. Our assembly here, with all the shades of our diversity, is a testament of our giant humanity.

We are here in our hundreds and thousands, unified for one purpose. That hate will be undone and love will redeem us.

We are told by our prophet, Mohammed, that you can never truly show gratitude to almighty God if you are incapable of loving your fellow man. To the people of New Zealand, thank you for your peace. Thank you for your haka. Thank you for your flowers. Thank you for your love and compassion.

To our prime minister, thank you. Thank you for your leadership. It has been a lesson for the world's leaders. Thank you for holding our families close, and honouring us with a simple scarf.

Thank you for your words and deeds of compassion. Thank you for being one with us.

Thank you to the New Zealand government and to all the wonderful people who have shown us that we matter, and are not forgotten.

Thank you to our police force and frontline services. You put our lives before your own, every day. Thank you to the neighbours, for opening your doors to save us from the killer. Thank you to those who pulled over their cars to help us.

Thank you to those who brought us food and helped us when we found it difficult to stand. Thank you, New Zealand, for teaching the world what it means to love and care.

To my brothers and sisters, those who are here today to perform the weekly Friday prayer, thank you for coming together once again. It is easy to feel lost after the trauma you and I experienced. But the promise of Allah made to us is true.

Thank you for anger that is restrained and your mercy that is overflowing. Thank you for your steadfastness.

Islamophobia kills. Muslims have felt its pain for years around the world.

Islamophobia is real. It is a targeted campaign to dehumanise and irrationally fear Muslims. To fear what we wear. The choice of food we eat. To fear the way we pray and the way we practise our faith.

We call on governments around the world, including New Zealand's and its neighbouring countries, to bring an end to hate speech and the politics of fear.

The martyrdom of 50 people and the injury of 42 did not come overnight, it was the result of the anti-Muslim rhetoric of some political leaders, media agencies and others.

Last week's events are proof and evidence to the entire world that terrorism has no colour, has no race and has no religion. The rise of white supremacy and right wing extremism is a great global threat to mankind and this must end now.

I want to take this opportunity to thank my Muslim and non-Muslim brothers and sisters for attending today. And I would like also to thank our international guests who have come to our support and aid in these difficult times.

Have mercy upon us all. Oh, Allah, grant the word peace, security and prosperity.

Oh, Allah, protect New Zealand and protect New Zealanders.

"

 

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