A ignorância informada em Portugal... (Terramotos)
Durante este fim de semana estive a rever o stock de emergência da nossa casa. Verifiquei a validade da comida para emergência, troquei os garrafões com cerca de 30 litros de água por água nova e armazenada num lugar escuro. Tenho o dinheiro para emergência, rádio a pilhas e várias lanternas em casa inclusive algumas das coisas a funcionar à manivela.
Faço isto porque faz parte do que nos é várias vezes recomendado. Ainda é normal fazermos exercícios de evacuações de emergência dos prédios (em que todos fazem mesmo) e ao entrar em qualquer edifício público é sempre comunicado todas as saídas de emergência.
O último terramoto que me lembro de ter sentido foi no dia dos namorados, a 14 de Fevereiro, quase um ano. A memória dos terramotos constantes começa-se a dissipar, mas estas rotinas não se dissipam.
Depois deste meu fim de semana, onde dispensei uma hora para me organizar estas coisas, houve mais um terramoto em Itália, e foi aí que percebi a ignorância que se vive em Portugal. E não estou a dizer que eu não partilhava desta ignorância até me ter mudado para este lado.
Vi vários comentários de pessoas, ao se mencionar que semelhante não aconteceria em Lisboa, que Portugal desde o terramoto de 1755 está preparado. Que as "pessoas sabem o que fazer". Mas a realidade é que acho impossível estar-se mais longe da verdade. E muitas pessoas não tem sequer noção disso. (ainda procurei aqui um comentário que li de alguém que dizia Lisboa foi construída de forma completamente segura a partir de 1755)
Apesar de algumas vozes a dar os diversos avisos relativamente a este assunto, artigos como este parecem cair no esquecimento da maioria prefere debater política externa ou quem ficou no Casa dos Segredos.
A Nova Zelândia tem pouco mais risco de terramotos que Lisboa, no entanto muitos me perguntam como consigo viver num lugar onde o risco de terramoto é tão grande. Sinceramente sinto-me mais seguro aqui para o caso de terramoto que em Lisboa. O risco é o mesmo mas é um local mais preparado. A acontecer algo grave, estou sujeito, mas tentamos prevenir, no que é possível, as consequências, já que o terramoto não se consegue prevenir.
Se o que estou a escrever não faz sentido, e para quem vive de Lisboa para sul, façam o seguinte exercício:
Imaginem que amanhã há um terramoto (o de Lisboa até está no período de retorno). Não vai haver electricidade e água durante 4 dias. Obviamente os supermercados vão estar fechados, cada um vai tentar tomar conta dos seus (fora as equipas de resgate). A acrescentar a isto não há multibanco e não há gasolina para os carros.
Isto assumindo que os prédios se aguentam. E sinceramente é aqui que acho que tudo vai falhar.
Depois de ver a construção daqui, de como é focada na construção anti-sísmica, e sabendo de como se constrói em Portugal, onde o que interessa é o mais bonito e barato e se passa um pano por cima da segurança, principalmente daquilo que não vai acontecer e ninguém vai saber que foi feito de maneira ligeiramente diferente daquela que as normas dizem, acredito que muitos vão ser os edifícios a cair e onde vão ser causadas as maiores casualidades.
A somar a isto tudo o pânico vai-se se instalar pela falta de preparação. Posso dizer que quando senti o meu primeiro terramoto, e por muito fraco que tenha sido, há uns primeiros segundos sem se saber o que fazer. Eu estava na minha primeira semana aqui. Hoje acho que consigo reagir muito melhor do que nesse dia, mas tenho a certeza que até aqui, com todo o treino, é uma sensação de insegurança. Imaginem nunca ter pensado sequer sobre o assunto.
Hoje entro num prédio de grandes proporções (teatro por exemplo), e por segundos, instintivamente, vejo sempre onde são as saídas de emergência, onde há riscos e só depois continuo. Quantos o fazem em Portugal?
Este outro artigo tem um vídeo interessante no fim sobre o último terramoto em Lisboa.
Eu não estou a dizer para se viver com medo constante de um terramoto. Não se vive assim, falo por experiência própria. Encaro o medo de viver com terramotos da mesma forma que encaro o risco de conduzir na estrada. Tenho cuidado, e por vezes cuidados especiais, porque sei que há coisas que não consigo controlar. Não deixo de conduzir com prazer, mas também não deixo de ter cuidado.
Com os terramotos é a mesma coisa.
Em Lisboa, tem os vossos kits de emergência? Quando constroem uma casa preocupam-se mais com a cor no exterior ou com o risco de colapso em caso de terramoto? Como controlam isso?
Todas as pessoas sabem o que é um terramoto e um tsunami.
De novo, muitas me perguntaram se não me sinto seguro aqui na Nova Zelândia. Agora pergunto eu:
Faço isto porque faz parte do que nos é várias vezes recomendado. Ainda é normal fazermos exercícios de evacuações de emergência dos prédios (em que todos fazem mesmo) e ao entrar em qualquer edifício público é sempre comunicado todas as saídas de emergência.
O último terramoto que me lembro de ter sentido foi no dia dos namorados, a 14 de Fevereiro, quase um ano. A memória dos terramotos constantes começa-se a dissipar, mas estas rotinas não se dissipam.
Depois deste meu fim de semana, onde dispensei uma hora para me organizar estas coisas, houve mais um terramoto em Itália, e foi aí que percebi a ignorância que se vive em Portugal. E não estou a dizer que eu não partilhava desta ignorância até me ter mudado para este lado.
Vi vários comentários de pessoas, ao se mencionar que semelhante não aconteceria em Lisboa, que Portugal desde o terramoto de 1755 está preparado. Que as "pessoas sabem o que fazer". Mas a realidade é que acho impossível estar-se mais longe da verdade. E muitas pessoas não tem sequer noção disso. (ainda procurei aqui um comentário que li de alguém que dizia Lisboa foi construída de forma completamente segura a partir de 1755)
Apesar de algumas vozes a dar os diversos avisos relativamente a este assunto, artigos como este parecem cair no esquecimento da maioria prefere debater política externa ou quem ficou no Casa dos Segredos.
A Nova Zelândia tem pouco mais risco de terramotos que Lisboa, no entanto muitos me perguntam como consigo viver num lugar onde o risco de terramoto é tão grande. Sinceramente sinto-me mais seguro aqui para o caso de terramoto que em Lisboa. O risco é o mesmo mas é um local mais preparado. A acontecer algo grave, estou sujeito, mas tentamos prevenir, no que é possível, as consequências, já que o terramoto não se consegue prevenir.
Se o que estou a escrever não faz sentido, e para quem vive de Lisboa para sul, façam o seguinte exercício:
Imaginem que amanhã há um terramoto (o de Lisboa até está no período de retorno). Não vai haver electricidade e água durante 4 dias. Obviamente os supermercados vão estar fechados, cada um vai tentar tomar conta dos seus (fora as equipas de resgate). A acrescentar a isto não há multibanco e não há gasolina para os carros.
- Para quantos dias tem comida para a família toda?
- E para os bebés em particular?
- Tem pelo menos 3 litros de água por dia por pessoa?
- Como vão cozinhar durante este tempo?
- Como vão comunicar e saber notícias? E para onde se vão evacuar?
Isto assumindo que os prédios se aguentam. E sinceramente é aqui que acho que tudo vai falhar.
Depois de ver a construção daqui, de como é focada na construção anti-sísmica, e sabendo de como se constrói em Portugal, onde o que interessa é o mais bonito e barato e se passa um pano por cima da segurança, principalmente daquilo que não vai acontecer e ninguém vai saber que foi feito de maneira ligeiramente diferente daquela que as normas dizem, acredito que muitos vão ser os edifícios a cair e onde vão ser causadas as maiores casualidades.
A somar a isto tudo o pânico vai-se se instalar pela falta de preparação. Posso dizer que quando senti o meu primeiro terramoto, e por muito fraco que tenha sido, há uns primeiros segundos sem se saber o que fazer. Eu estava na minha primeira semana aqui. Hoje acho que consigo reagir muito melhor do que nesse dia, mas tenho a certeza que até aqui, com todo o treino, é uma sensação de insegurança. Imaginem nunca ter pensado sequer sobre o assunto.
Hoje entro num prédio de grandes proporções (teatro por exemplo), e por segundos, instintivamente, vejo sempre onde são as saídas de emergência, onde há riscos e só depois continuo. Quantos o fazem em Portugal?
Este outro artigo tem um vídeo interessante no fim sobre o último terramoto em Lisboa.
Eu não estou a dizer para se viver com medo constante de um terramoto. Não se vive assim, falo por experiência própria. Encaro o medo de viver com terramotos da mesma forma que encaro o risco de conduzir na estrada. Tenho cuidado, e por vezes cuidados especiais, porque sei que há coisas que não consigo controlar. Não deixo de conduzir com prazer, mas também não deixo de ter cuidado.
Com os terramotos é a mesma coisa.
Em Lisboa, tem os vossos kits de emergência? Quando constroem uma casa preocupam-se mais com a cor no exterior ou com o risco de colapso em caso de terramoto? Como controlam isso?
Todas as pessoas sabem o que é um terramoto e um tsunami.
De novo, muitas me perguntaram se não me sinto seguro aqui na Nova Zelândia. Agora pergunto eu:
- Alguma vez pensaram o quão preparados para um terramoto estão em Lisboa se acontecesse amanhã?
- Não é isto uma ignorância informada?
- Acham mesmo que Lisboa está segura?
p.s.:
Já depois de ter escrito isto, e enquanto partilhava este texto no Facebook, o João R. lembrou que em Portugal muitos seguros não cobrem estragos causados por terramotos. Está naquelas linhas muito pequenas dos contractos (pelo menos a nossa casa em Portugal lembro-me de ter isso).
Aqui as seguradores são obrigadas a cobrir por lei. Em Portugal, em caso de terramoto e das seguradas se "esquivarem" de pagar, imaginem o quanto as pessoas serão afectadas. Se aqui com seguros a cobrirem houve imensas histórias (muito tristes) dignas de um livro por causa das seguradoras, imaginem havendo as letras pequenas nos contratos que as ilibam de tudo. Por isso uma última pergunta:
Aqui as seguradores são obrigadas a cobrir por lei. Em Portugal, em caso de terramoto e das seguradas se "esquivarem" de pagar, imaginem o quanto as pessoas serão afectadas. Se aqui com seguros a cobrirem houve imensas histórias (muito tristes) dignas de um livro por causa das seguradoras, imaginem havendo as letras pequenas nos contratos que as ilibam de tudo. Por isso uma última pergunta:
- O vosso seguro de casa cobre terramotos?
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