Aeroportos...

"Há mais beijos sinceros nos aeroportos que nos altares de casamentos".

Este último mês e meio fizemos quatro idas ao aeroporto. Foram visitas "diferentes" para nós pois fomos ter com a família e levar a família.

As idas aos aeroportos a partir do momento que se decide emigrar tem um sabor diferente. A cada ida vivi (vivemos) emoções muito fortes. São recontros e despedidas que acredito muitas pessoas não compreendem porque não as vivem ou viveram.

Naqueles momentos de espera antes de chegada ou depois da despedida olhei à volta e vi a vida de outros que tal como nós estavam ali pelo mesmo motivo. Vi muitas lágrimas, muitos sorrisos, muita alegria e muita tristeza. Senti a emoção dos outros e também vi que outros sentiram a nossa.
São momentos em que no meio de toda a azáfama de um aeroporto se ouve o silêncio em cada um dos gestos que se fazem.

É curioso como há 10 anos atrás via um aeroporto como sinónimo de férias e alegria ou simplesmente de uma paragem durante uma viagem de trabalho. Apercebo-me hoje, quando já vivi 10% da minha vida em países diferentes daquele em que nasci, que um aeroporto é para muita gente, tal como para nós, muito mais que isso.

É um lugar de sentimentos e uma ponte de ligação para aqueles que gostamos.

É verdade que cada vez mais para nós a ligação é à família e não tanto aos restantes amigos e conhecidos que ficaram em Portugal. A distância começa a deixar a sua marcas e só aquelas relações mais fortes perduram.
Às vezes é uma mistura de tristeza (por às vezes tentarmos esse contacto com eles e não termos resposta) e aceitação (só aquelas amizades mais fortes iriam perdurar e muitas das outras iriam ficar diluídas no tempo).

Claro que depois há aqueles que sentimos como se cá estivessem: ainda hoje enquanto embalava a minha filha usava uma cadeira que uns amigos em Portugal trataram de me fazer chegar de surpresa (e agradecia o facto de a ter ali porque já não me consegui sentar noutro sítio onde a conseguisse embalar). Ainda temos a companhia daqueles que conseguem cá chegar: E que bom vai ser termos no próximo fim de semana onde vamos voltar a ter um encontro de orfeonistas no outro lado do mundo e mais do que isso vai ser um encontro de amigos. E claro há aqueles que mesmo sabendo da distância nos convidam para um casamento em que vai ser impossível irmos ou para um churrasco à beira da piscina (e que bem que sabem esses convites impossíveis).

Os "aeroportos" e a distância são o preço da vida que escolhemos ter. Sempre foi um preço que soubemos e sempre foi um preço que sabíamos "caro". Temos a vida que queríamos aqui mas isso não torna o preço deste "senão" menos doloroso.
Agora que regressaram a Portugal, fica-nos a alegria de termos tido esta visita da nossa família e de eles compreenderem um pouco melhor a nossa vida, do porquê da nossa felicidade num país a 20.000km da casa deles, os locais a que nós agora chamamos casa e os nossos novos amigos.
E claro, acima de tudo, de eles conheceram aquela que é a nossa nova família a três, que na verdade também é a família deles, mesmo que à distância.

Se estão a ler este texto sem nunca terem reparado "nos aeroportos", na próxima ida a um, parem ao lado dos locais de chegada e partida de passageiros, naquele ponto em que os olhares de pessoas que estavam distantes se voltam a cruzar, e por um instante sintam todos esses momentos...

Saída de passageiros de vôos internacionais do Aeroporto de Christchurch
(e nas próximas semanas iremos ter mais umas idas aos aeroportos)


Comentários

  1. Há cerca de ano e meio que sigo o seu blog... E, primeiro que tudo, muitos parabéns pela Sofia :) Segundo, muito obrigado pelo blog.

    Foi uma tremenda ajuda e grande "inside view" da vossa realidade que se acabou por tornar a nossa.

    É tão real e tão próximo o que descreve neste post que é impossível fica sem aquele nó na garganta e aperto no peito, só de pensar no próximo regresso lá (onde eles, a nossa família de sangue e sem ser de sangue, estão ).
    Este é sem dúvida o maior preço...
    Mas temos sempre os aeroportos... Onde os reencontros trazem alegria e as partidas, tão duras, nos mostram o quão forte é a ligação e o quanto os queremos...
    Enfim...

    Só para agradecer o seu "apoio" e se por acaso quiserem visitar o sul do sul (Invercargill) podem contar com sítio para ficar e quem sabe um bacalhau com natas :p

    Melhores cumprimentos,
    Rui
    Ps: já alguém diz "Rui" como deve de ser por aí?? :)

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    Respostas
    1. Obrigado pela mensagem.
      Sim, acredito que este sentimento nao era so' nosso, por isso o partilhei.
      Tivemos recentemente em Dunedin (vou escrever sobre isso nestes proximos dias) e foi o mais proximo que tivemos de Invercargill (eu sei que ainda e' longe). Para ja' ainda nao temos planos para ir tao a sul mas ainda temos tempo. A proxima paragem vai ser ja' Auckland.

      Quanto a dizerem Rui... ja' desisti... os poucos que conseguem dizer algo parecido depois ficam entusiasmados e tentam dizer o Guimaraes (e estregam tudo). :)

      Melhores cumprimentos e felicidades por ai tambem,
      Rui

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