Um mundo diferente...

Nos últimos meses a vontade de escrever, a maior parte das vezes, tem sido de impulso... às vezes por algum comentário que leio numa qualquer rede social que considero mais parvo ou de puro egoísmo. Às vezes só porque estou mais triste, quando por fora tudo tem de continuar bem. Por isso não tenho escrito de todo.

Mas hoje vou escrever porque quando olho à volta e tudo parece uma realidade muito alternativa onde todos tem opinião e a sua razão e ninguém compreende a realidade dos outros.

Esta semana a Nova Zelândia voltou a descobrir casos de transmissão na comunidade, e tal como da primeira vez tomou das medidas mais agressivas de que tenho noção: ao fim de menos de 24 de descobrir apenas 4 casos, fechou a maior cidade do país e elevou o nível de alerta no país todo.

E é aqui que eu paro para pensar. Tive vários amigos de outros países (inclusive Portugal) a virem falar a lamentarem o que nos aconteceu. O que penso é que nós continuamos a ser dos países mais seguros do mundo, dos que conseguiram o maior nível de normalidade no mundo louco que vivemos, mas toda a gente sente a nossa dor de termos aqueles 4 casos inciais. Foi capa de vários jornais no mundo todo, inclusive jornais em Portugal e toda a gente fala de nós. Como se fossemos a equipa que muitos querem apoiar para ter sucesso enquanto outros esperam que falhe para provarem que tinham razão.

O mundo tornou-se o centro de várias experiências e estratégias completamente diferentes em que cada um desejava ser o outro e muitos criticam a sua própria estratégia. Ora é a Suécia com a estratégia de deixar espalhar o vírus e conseguir a sua imunidade de grupo para manter economia, ora a Rússia com o seu Sputnik V, ora os Estados Unidos da América com o que quer que passe pela cabeça do Trump no dia em que dá a conferência... ora a Nova Zelândia a tentar eliminar completamente o vírus no país a qualquer preço. 

A verdade é só daqui a uns anos é que vamos saber a resposta. Há uns 3 anos li um livro, que achei super interessante, cujo o título era: "But if we are wrong? Thinking about the present as if it was the past.". O livro não dá resposta para nada mas mostra com vários exemplos que ao longo da história, nos momentos críticos, nunca conseguimos analisar o presente de forma concreta, mas conseguimos ser sempre super críticos e concretos com o passado.  Por exemplo, a melhor música da nossa geração pode ser alguém que neste momento pouca gente saiba quem é, afinal muitas das músicas que hoje dizemos que marcaram uma geração, nessa geração não era conhecida e só mais tarde se reconhece o talento do músico. Ainda mais exemplos com os pintores ou outros artistas ou figuras históricas.

Assim pode ser que daqui a uns anos vamos a olhar para trás e iremos conseguir dizer quem de facto tinha razão, se é que alguém.  

Depois da forma como fui afectado pelo Covid-19, gosto de pensar que estou no país certo. As mensagens do nosso governo e da nossa Primeira Ministra inspiram (a primeira vez que algum político fez sentiram isso comigo), mesmo que saiba que ela pode não ter razão em muita coisa e que comete erros. A comunicação é feita de forma super aberta e o país reage. As empresas demoram apenas horas a reagir a cada comunicação e as coisas de facto mudam com a comunicação (que considero) eficaz.

Há vozes críticas.. e vai sempre haver vozes críticas. Há pessoas que são afectadas com as decisões do governo e por isso vai ser sempre impossível dar resposta a tudo. Eu percebo essas pessoas. Também acredito é que estamos num ponto da nossa existência que temos a obrigação de tentar fazer algo por todos numa situação destas. Ficar de braços cruzados a queixarmo-nos que usar máscara é muito complicado  não faz sentido, muito menos discutir teorias da conspiração ou simplesmente ser do contra.

Nas palavras da nossa primeira ministra, isto não é a normalidade nem o vai ser tão cedo. Temos muitas restrições e há luxos aos quais não nos podemos dar. Por isso há que tentar aproveitar o que podemos fazer enquanto nos preocupamos pelo todo.

Acho que nessa experiência que todos vivemos de forma diferente, ninguém entende os outros. Na Nova Zelândia, até agora ninguém já se lembrava o que era ter o vírus. A vida estava completamente normal e nem se percebi as restrições dos outros países. 

Da mesma forma ninguém compreende a nossa sensação de "normalidade", que agora mudou completamente para um regime de entender onde estamos de novo e com restrições muito diferentes de outros países no entanto para um objectivo completamente diferente.  

Nunca me consegui desligar de Portugal... 

Tem sinais muito positivos, mas a mim custa-me ver as escola, sem medidas concretas e eficientes para prevenir mais casos, a tentar abrir sem a situação estar perto de estar controlada, eventos como o Avante ou querer a todo custo ter turistas dos países mais infectados. Em Portugal ou noutros países, custa-me ver cada vez que sai uma lista de óbitos que são 20, 30 ou 1000 pessoas que as famílias à sua volta vão sentir o vazio que sinto, onde as notícias nos próximos meses vão tocar no assunto vezes e vezes sem conta. Ao ponto de algo que nos faz tão triste falar ou ouvir falar se torna tão banal que ficamos completamente indiferentes, o que é ainda pior por ficamos dormentes para essa dor. E quando não nos deixa indiferentes é apenas porque nos deixa revoltados (pelo menos tem sido bom remover várias pessoas que conheço pessoalmente dos meus contactos de Facebook e outras redes sociais).

A Nova Zelândia descobriu nos últimos 3 dias 33 casos novos, todos ligados entre si... Mais virão de certeza agora mas para já não há ninguém internado.

Nos últimos 3 meses e meio só houve um óbito e já foi há mais de 2 meses.

Auckland, a maior cidade da Nova Zelândia, vai ficar em lockdown (não total, ainda temos um nível de alerta acima), durante duas semanas mais. O resto do país não deve sair de nível 2, pelo menos durante um mês.

Sei que posso estar completamente enganado... sei que tem um preço a pagar... mas ainda sinto confiança na nossa estratégia... talvez seja só porque na minha forma de pensar veja só aquilo que passei e não quero que outros sintam o mesmo apesar de haver outras dores iguais... mas acredito na estratégia da Nova Zelândia pelo menos a curto prazo.


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