Perigos reais da Nova Zelândia...

Para mim, uma das grandes diferenças da Nova Zelândia para a Europa e América do Norte é que aqui cada um é responsável por si (realmente responsável pelos seus próprios actos). Não esperem um segurança em cada caminho de entrada na montanha a dizer que hoje podes ou não entrar e qual o melhor caminho a seguir. E não esperem processar alguém se se aleijarem neste caminho ou naquela travessia porque não havia indicações de quando ir ou por onde ir.

Não estou a dizer que estas indicações não existem, pelo contrário, existem e são bem claras, mas cada um tem de se tratar de informar, fazer o trabalho de casa, saber que autoridades tem que informar e que medidas tem de tomar para fazer o percurso de forma seguro.

Desde que cá vivemos, por diversas vezes já fomos confrontados com notícias de turistas que morrem ou perdem a tentar fazer coisas para as quais não estão preparados. Não estou a dizer que acidentes não acontecem, há sempre acidentes e acontecem a todos, mas por demasiadas vezes parece-me ingenuidade de quem se aventura por este país sem o conhecer.

A título de exemplo, nós por diversas vezes já nos aventuramos por zonas mais remotas, mas não sem antes deixarmos uma mensagem a alguém a dizer por onde nos vamos meter. Inclusive já chegamos a chegar a um ponto que não tínhamos a ideia que seria considerado "remoto" e nesse momento (antes de perdermos acesso a meios de comunicação) telefonar a alguém e dizer para onde estávamos a entrar (mesmo que de carro) e que deveríamos voltar à civilização em x horas.

Estou a falar nisto tudo agora porque esta semana houve mais um acidente trágico e que podia ser ainda mais trágico (não fosse muita sorte e capacidade de sobrevivência). Este acidente chegou às notícias de todo mundo, inclusive Portugal (ver aqui notícia em Português).
Um casal checo resolver fazer umas das "grandes caminhadas" do país (que também faz parte dos meus planos), mas resolveu fazer no Inverno, numa altura em que tivemos tempestades de neve na ilha, sem avisar aos autoridades (que é altamente recomendado fazer, mas, de novo, não é obrigatório) e sem levar um aparelho de localização (também recomendado em todas as caminhadas por esta zona e fornecido pelas autoridades).

O resultado foi o pior cenário: com a altura da neve deixaram de conseguir ver o caminho ao fim do segundo dia, perderam-se e caíram no zona onde já estavam completamente fora do percurso. O rapaz morreu no local e a rapariga conseguiu, depois de dormir três noite ao relento no meio da neve, atingir uma das várias cabanas de apoio no meio da montanha (que tem comida lá dentro para as emergências). Acabou por ficar praticamente um mês nesse cabana, sozinha, no meio da montanha sem ninguém a ir resgatar (porque não sabiam que eles estavam lá). Por causa das condições meteorológicas mais ninguém se aventurou a fazer a caminhada logo ninguém a encontrava.

Acredito que ninguém se arrepende mais da sua decisão do que agora ela. No entanto é uma história que vejo repetir-se demasiadas vezes: a falta de atenção para os perigos do país. Acidentes graves nas caminhadas acontecem, mas este em particular podia ter sido minimizado (os resgates normalmente acontecem ao fim de um ou dois dias) ou completamente evitados (se tivessem falado com as autoridades eles iriam lhes dizer que eles não conseguiam fazer o percurso naquelas condições).

Para os que percebem Inglês, fica aqui um pouco da história contada na primeira pessoa.

Para os que querem aproveitar a Nova Zelândia, acredito que a beleza da natureza do país vale alguns pequenos riscos (até nós às vezes os corremos) mas as loucuras são perfeitamente evitáveis. Por exemplo, avaliamos sempre o que somos capazes de fazer, dependendo das condições meteorológicas evitámos certas zonas da ilha e temos sempre um ou dois planos alternativos. Ainda informamos alguém de onde vamos, se houver risco de ficarmos em zonas remotas, para além de carregar sempre roupa e comida para o que der e vier (afinal ninguém está livre de imprevistos ou acidentes).

Ficam aqui são as recomendações das autoridades locais (DOC - Department of Conservation) para aventuras seguras nos "outdoors".


Em resumo, o país é fantástico mas não pensem que não tem perigos. No momento que acharem que é fácil ou que não tem perigo, correm o risco de fazer capa das notícias daqui, nem que seja por mais um resgate de helicóptero a um turista desaparecido por dois dias (que é o que acontece mais vezes e, felizmente, na maior parte das vezes com um final feliz)

Comentários

  1. Olá Rui. Obrigado por dares a conhecer. Também às vezes receio pelos que vêm e se metem a caminho sem saber ou ignorando as precauções devidas.
    Há natureza bonita em todo o mundo, mas o nível de isolamento, distancias e mudança inesperada de tempo é outra coisa por aqui.

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  2. Viva Rui. Estou a preparar uma possível ida minha para a nova zelandia. No meu caso será mesmo para trabalhar e vivar. Já tirei muito boas informações do teu blog. Continua!

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  3. Obrigado pelas palavras Rita e Filipe. Ainda bem que as informacoes tambem sao uteis para outras pessoas.

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