Terramoto vivido por nós...

Nem há 15 dias atrás, no meu último post aqui no blog, escrevi que já estávamos há vários meses sem nenhum terramoto mas que mesmo assim tínhamos de estar sempre atentos e prevenidos.

Hoje, à meia-noite e dois minutos sentimos o maior terramoto que nós sentimos até hoje. Foi o mais forte a atingir a Nova Zelândia desde a década de 1930, o que num país com a história de terramotos da Nova Zelândia é muito.

Felizmente para nós (infelizmente para outros), apesar de muito perto de Christchurch, o epicentro foi a cerca de 100km a norte da nossa casa, em Hanmer Springs, um dos nossos locais normais para passar o fim-de-semana. A zona mais afectada foi Kaikoura, onde se registaram dois mortos até ao momento. Kaikora é outro dos nossos destinos de fim de semana regulares (assim como também é um destino muito turístico).

A nossa primeira reação ao sentir o terramoto foi ir para a beira da Sofia e, embora este tenha sido muito comprido, com as portas da casa a baterem do movimento e, sobretudo, com a casa a chiar, não acordou e continuou no seu sono.
Não foi particularmente violento (já tínhamos sentido mais violentos) mas a duração e o tipo de terramoto já fazia prever algo muito grande e longe (o meu primeiro pensamento foi que tivesse sido a falha alpina).

A electricidade não falhou e até tínhamos net. A primeira reação foi ver a intensidade e local do epicentro na net: 7,4 na escala de Ritcher. Assim era garantido que ia ser notícia em Portugal, portanto a primeira reação foi mandar email à família. Poucos minutos depois o Facebook enviou uma mensagem do centro de emergência para nossa localização, então fomos actualizar o estado lá para informar mais pessoas.

Uma vez com o rádio a funcionar (a informação na net estava a ser escassa) fomos informados do risco de tsunami para todo o país. Inicialmente as sirenes de tsunami não dispararam na nossa cidade pois o risco era reduzido, mas com Wellington a ser evacuada e com centenas (pelo menos mais de 200) de réplicas as sirenes acabaram por disparar também na nossa cidade.

Como estávamos fora da zona de risco (1km da costa e dos rios) não evacuamos.

Durante as horas seguintes (até cerca das 4 da manhã) fui ouvindo no rádio os detalhes do que estava a acontecer, principalmente no que tocava à evacuação da nossa cidade.

E aqui mostra-se o quanto por muito preparado que estamos, nunca estamos suficientemente.
Coisas que nos falharam:
  • Rádio: Sim, tínhamos rádio, mas não estava carregado. Dava para carregar com manivela mas numa situação de emergência não dava jeito. Como tínhamos electricidade ficou resolvido, isto se soubéssemos a frequência da emissão de emergência. Lá descobrimos, mas daqueles detalhes que na escuridão (que não foi o caso) não se encontrava.
  • Lanternas: temos várias lanternas espalhadas pela casa. A lanterna da sala, a pilhas, ainda estava dentro daquelas capas de plástico (quando se compram) que são impossíveis de se abrir sem uma serra eléctrica. No escuro não tinha sido fácil. A do carro, foi usada este fim de semana, e por isso não estava totalmente carregada.
  • Tsunami: temos muitas coisas planeadas para terramoto. Acho que não tínhamos um plano para alerta tsunami. Ainda estive a ver online o risco que tínhamos. Isto porque tínhamos net. Se não tivéssemos íamos ter de improvisar um outro plano.
Ou seja, para nós, e até agora, acabou por não ser crítico, apenas a "emoção" da situação. Note-se que as réplicas ainda não pararam. Ainda hoje, na empresa, parei duas reuniões por uns momentos por causa das réplicas.

O alerta de tsunami manteve-se toda a (nossa) noite. Tivemos amigos em Wellington que foram evacuados e tiveram de ficar em casa de amigos. 

Agora de manhã percebeu-se a dimensão dos estragos. Kaikoura está completamente isolada (os únicos acessos são pela costa e várias derrocadas cortaram o acesso à vila) e bastante atingida. Houve uma pessoa que faleceu com a queda de uma casa e outra que teve problemas médicos (acabando também por falecer) devido à situação de pânico. Ainda não se sabe se está alguém debaixo das encostas mas para já nada aponta nesse sentido, principalmente por causa da hora (já fizemos esta estrada às 23h e estava deserta, por isso a probabilidade de ter carros é baixa).



Fonte: fotos do Facebook da Proteção Civil de Canterbury
Nós conhecemos bem estas estradas. Tenho vários filmes que já publiquei aqui no blog nestes mesmo sítios. Ainda tínhamos colegas, que estão bem, mesmo no meio do ponto pior, em Kaikoura. Entretanto já foram resgatados pela proteção civil mas ainda estão presos na vila (sem perigo).

Ainda partilho um video para se ter ideia da dimensão:

NOTA: Enquanto estava aqui agora escrever este post, neste exacto momento, mais uma réplica forte.

Voltando ao texto...
Nas horas seguintes ao terramoto fui contactado por diversos jornalistas. Alguns que já conhecia de entrevistas anteriores e vários outros que iniciaram o contacto comigo para saber informações.
Como eu não sabia detalhes, não estávamos tão afectados como noutras regiões optei por não falar a ninguém sobretudo para não dar informações sem conhecimento do que estava realmente a acontecer (que era o nosso caso).
Acho importante não nos precipitarmos a dar notícias até porque vemos IMENSAS notícias e imagens que NÃO retractam o que está de facto a acontecer. Por exemplo, Christchurch é sempre dado como a cidade mais afectada e não é o caso. Até tivemos muita sorte. Em alguns canais de televisão (na RTP por exemplo) passaram imagens do terramoto aqui da cidade 2011 como sendo o de agora (que nem podia ser porque tinha sido de noite).
Em alguns jornais (JN) a notícia principal era que as autoridades disseram às pessoas subirem às árvores por causa do tsunami, quando isto era apenas no caso de emergência extrema (que não foi o caso pois evacuaram com tempo).

A situação vivida (e que, de novo, ainda se vive) já foi intensa que chegue para a Nova Zelândia. Não há necessidade de a tornar mais intensa com coisas que não são verdade.

A última actualização é que um rio ficou completamente bloqueado por uma derrocada de uma escarpa e por causa disso o rio agora está a transbordar e inundar tudo à volta (que nem uma barragem).

Fonte: foto de Stuff.co.nz
A Nova Zelândia continua a ser um país fantástico. Não retiro uma linha a tudo de bom que digo do país. Apenas temos de esperar que a sorte esteja do nosso lado quando algo assim acontece e, tal como disse anteriormente, tomar as devida precauções.

De resto é só aproveitar "o paraíso" e saber lidar com estes "pequenos" contratempos. Nem sempre é fácil, mas continuo a achar que vale a pena. Nem por um segundo, pelo menos desta vez, pensei em sair daqui.

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