Montanha acima: A maior aventura de Ski...

Este Sábado foi dia da minha maior aventura de ski até hoje (a maior por cabazada).

A Nova Zelândia apesar de também ter estâncias mais comerciais tem alguns "clubes de ski" que são "locais" para fazer coisas mais "selvagens". Eu tinha uma curiosidade muito grande por estes clubes e já tinha inclusive feito dois (Porters e Cheeseman) para além da estância mais comercial, Mt Hutt.
Já tínhamos ainda ido visitar Broken River, mas nesse dia não esquiamos por falta de equipamento.

Mas a minha maior curiosidade era com Temple Basin, uma estância totalmente diferente das outras. E aqui foi a primeira vez acho que atingi o meu limite (quer pela exaustão física quer pela capacidade técnica para fazer algumas descidas - leia-se saltos). Psicologicamente pelo menos foi uma experiência muito boa e sem incidentes.

Como tenho alguns amigos que gostam de ski, vamos aos pormenores:

O parque de estacionamento de acesso às pistas fica a 1h50m de Christchurch, pelo meio dos Alpes, passando Arthur's Pass. A estrada está em muito bom estado e só apanhamos neve nos últimos 5 minutos de viagem (não chegou a ser preciso colocar correntes).

Uma vez no parque de estacionamento tem que se subir a montanha a pé. Sim, a subida pela montanha é literalmente feita a pé. O percurso é de cerca de uma hora (um pouco menos), mas a minha forma física (que eu achava que estava aceitável tendo em conta que treino basket e squash duas ou três vezes por semana) fez com que passasse a hora e pico (com algumas paragens pelo caminho para respirar).

Para ajudar, desde já, com a descrição ficam algumas das fotos da caminhada (a foto da ponte tem direitos de autor para o meu companheiro de viagem português, NN, mas achei digna para se perceber o percurso na sua parte final). A partida é da parte mais baixa do vale e estas fotos são a meio da subida (falta outro tanto, mais a pique ainda).
 O regresso ao final do dia é feito pelo mesmo caminho (mas aí já se faz bem em 40 minutos)




A vantagem é que pelo menos o equipamento consegue-se mandar num elevador que transporta os bens lá para cima. Ao final de dia manda-se o equipamento para baixo no mesmo elevador.


Uma vez lá em cima esqueçam os teleféricos, cadeiras, T-bar, "saca rabos" ou carpetes.
Há dois meios de transporte entre as "pistas": andar a pé (muito) e, como meio mecânico, cordas com um auxílio do "nut-cracker" (quebra nozes) que dão acesso aos pontos mais altos. Isto é de longe o meio de mecânico mais "hardcore" que já vi em estâncias de neve no mundo (dos países que fiz, claro) mas é bastante comum nestes clubes da Nova Zelândia.


Isto é a foto do "nut-cracker" que usei este fim-de-semana. Esta peça fica presa à nossa cinta e o sistema de puxar acaba por ser similar ao "saca-rabos". Mas como acho que é impossível descrever isto encontrei este vídeo da primeira vez que alguém usou este sistema. Dá para perceber os desafios do mesmo (ver até ao fim para perceber os desafios).


Claro que com tanto "trabalho" a neve na montanha só podia ser fabulosa, a estância de uma beleza extrema e o ambiente único. Os trilhos todos com neve fresca e virgem. Fantástico e indescritível.



Claro que se paga o preço do cansaço e o nível de dificuldade é entre o alto e o muito alto. Não existem pistas marcadas (existem no mapa, mas não no terreno), o que fez que que numa das minhas descidas a coisa não corresse tão bem e fui parar ao uma escarpa (sem hipótese de regresso) para trás. Com um nível muito avançado de ski ou snowboard dá saltar, mas a minha técnica não é ao nível daqueles que fazem esses saltos, por isso a solução (depois de muito refletir) acabou por descer com os skis de lado deitado no terreno. Sem incidentes essa descida mas não menos assustadora por isso.

Para os mais entendidos este foi o local (imagem gentilmente cedida pelo Google Maps). Rochas incluidas. Para os menos entendidos, quando se está de cima, com neve bem alta não dá para escolher qual o melhor local para descer, visto que ao nos aproximarmos a neve começa a escorregar e a inclinação não deixa ver para a frente.


Claro que havia alternativas e a minha ideia não era fazer este "atalho" mas os enganos nos caminhos acontecem e é o preço que, por vezes, se paga por fazer experiências diferentes.

Assim o saldo do dia foi uma canela esfolada (com o fato rasgado nesse sitio) e o cotovelo inchado numa queda numa outra descida (isto durante uma outra descida), muito cansaço das caminhadas (mesmo entre as pistas) mas foi uma experiência extremamente positiva e (de novo) única: com um dia de neve FANTÁSTICO e num local daqueles que se ouve falar mas nunca se vai. E parar no alto da montanha, onde só se vai com MUITO esforço e apreciar a vista (nas fotos acima) não tem descrição possível.
Foi ainda excelente explorar (e atingir) os meus limites com "outro nível" de ski. Como é um nível acima do meu (acho que ainda vou demorar - uma vida - até ter coragem de saltar penhascos) e acho que aquela caminhada inicial só por si era capaz de me matar, provavelmente não regresso a esta estância mas para todos os absolutamente doentes da modalidade e com técnica para isso recomendo vivamente.

Para o ano fica Broken River. É um ambiente similar e com boa exigência técnica mas sem os penhascos (tem, mas é muito mais difícil ir lá parar por acidente) e sem a subida e descida a pé (há um elevador que opera e leva pessoas duas horas por dia).

Acima de tudo, uma recordação para a vida...

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