Ser emigrante?

Sentado no aeroporto no Dubai vejo centenas de pessoas passarem por mim.
É mais um regresso a casa. À "nova casa" como normalmente me refiro.

Apesar de ser já o segundo país em que trabalho fora de Portugal, o país que está escrito no meu passaporte, nunca me considerei emigrante. Mas se calhar já o sou há muito.

Não me considerei, se calhar, porque não me identificava com os emigrantes de outros tempos, que vinham em Agosto para Portugal, pela estrada fora, a fazer horas sem parar, na ânsia de regressar a casa.
Não me considerei porque falo Português com sotaque Português e ainda não dou hipótese à alcunha de "Avec".
Não me considerei porque vejo a minha família várias vezes no ecrã do meu computador e o tão longe parece tão perto.

Mas na realidade, provavelmente, sou mesmo emigrante. A minha carta de condução tem um bandeira que há alguns anos não me dizia nada, o inglês acaba por ser a minha principal língua no dia a dia e em casa, ao final do dia, volto ao "meu" Português.

As longas viagens de carro são substituidas por aviões e horas de aeroporto. Se a tecnologia mudou, mudaram também os nossos destinos. O lugar a que chamo agora casa é a 20.000km do lugar que me viu nascer.

E os regressos a Portugal? Esses podem não ser em Agosto, podem não ser para os "bailaricos", mas não deixam de ser um rodopio onde no fundo o mais importante acabam por ser os abraços. Aqueles abraços fortes que querem dizer: "tu significas algo para mim".

Se calhar sou emigrante porque apesar de tudo a razão foi a mesma de outros tempos. Foi a procura de oportunidades melhores (por muito que goste da aventura), sejam elas a qualquer nível, e essa sempre foi a principal razão.

Esta nova geração de emigrantes, na qual agora cada vez mais me reconheço, luta por algo. Um futuro que, por alguma razão, o próprio país não consegue oferecer. Falam-me muito em coragem mas acho que acima de tudo é lutar por algo que acreditamos e queremos, e ao ir para fora, afinal, quem tem o maior risco somos nós próprios.
Admiro também os que ficam, mas provavelmente não era o que me estava destinado, nunca foi.

Na distância sofrem-se dores que nem todos as percebem. O "perder" pessoas que nos eram próximas para distância. E não é o perder de falecer, esse é duro em qualquer lugar. É o deixar de existir porque não se cuida dessas plantas da vida sem as regar. Só aqueles mesmo muito resistente se mantêm lá. Mas há outras bonitas que não sobrevivem sem água.

O deixar de ver os mais pequenos crescer e os acontecimentos acontecerem. Parece que fica um buraco no tempo ali. No regresso parece que tivemos ali ontem, mas o tempo passou para todos menos para nós. Os hábitos são os mesmos (por exemplo, estas semanas, "fui" várias vezes desligar o alarme do meu prédio... o alarme que já não existe) mas o mundo mudou. E tudo é repentino. Saber que alguém mudou a sua vida parece uma coisa de um dia para a noite, mas na realidade foi um processo de meses e para nós foi de ontem para hoje.

Já escrevi uma vez uma frase que o meu chefe me disse no meu primeiro mês na Nova Zelândia: "Estamos longe e não conseguimos estar com aqueles que gostamos, e eles connosco. Fica-nos a satisfação daqueles que gostam de nós saberem que estamos a viver uma vida melhor."

Não vou dizer que não gosto de estar fora, porque é mentira, gosto. Mas agora apercebo-me que também não posso dizer que não sou emigrante, porque na realidade, começo a descobrir que se calhar sou...

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